Dia das Boas Ações

No âmbito da comemoração do Dia das Boas Ações, neste mês de abril, a World Needs decidiu abraçar a iniciativa e desenvolver uma boa ação: enviar cartões de agradecimento aos profissionais de saúde. Esta ação foi desenvolvida com o apoio de professores e alunos de algumas escolas que, sensibilizadas com esta ideia, se juntaram à World Needs para levar a cabo tal tarefa. Concretizaram, assim, várias dezenas de cartões destinados a utentes que se encontram em internamento.

Uma das escolas participantes foi a Escola Visconde de Salreu – Agrupamento de Escolas de Estarreja. Os cartões criados pelas crianças desta escola foram reencaminhados para o IPO do Porto que, mal receberam as várias mensagens, decidiram criar um mural para que todos os seus utentes pudessem ver, ler e sentir o carinho e alento que as crianças quiseram transmitir.

Com esta iniciativa a World Needs pretendeu, não só demonstrar o seu apreço pelo esforço de todos os profissionais de saúde, como também criar alguma consciência cívica das crianças nas escolas. Tornou-se possível sensibilizar estes alunos para a existência de outras crianças ou adultos que, pelas circunstâncias do seu dia a dia, se encontram em situações mais vulneráveis.

O feedback recebido por parte dos professores que realizaram esta atividade foi bastante positivo, uma vez que consideraram ser de extrema importância sensibilizar os seus alunos para o cuidado a ter para com o outro.

A World Needs considera que esta atividade foi uma mais valia para o enriquecimento pessoal de toda a equipa mas, também, das crianças que participaram nesta boa ação.

Deixamos o nosso agradecimento a todos os envolvidos, nomeadamente, à Escola Visconde de Salreu- Agrupamento de Escolas de Estarreja e  à Escola Conde Dias Garcia.

Este agradecimento é também extensível a todos os profissionais de saúde que continuam a dar o máximo de si para garantirem os cuidados de saúde das respetivas populações.   

A todos, o nosso muito obrigado!

Os velhos são sábios

Esta pandemia veio provar que a forma de como o sistema lida com os idosos está desenquadrado da realidade e precisa urgentemente de soluções. Em todo o mundo.

Caso a humanidade não ganhe juízo na sua relação com o ambiente e os recursos naturais, as pandemias tornar-se-ão mais frequentes e, por essa razão, tendo em conta a forma de como se lida com os mais velhos, só nos faz temer pelo pior. No caso de Portugal, dois em cada cinco mortos residem em lares, representando 40% dos óbitos por Covid-19 só nesta resposta social.

Em todo o mundo, tem vindo a crescer um fenómeno que é o da discriminação em função da idade mais avançada, levando a desconsiderar os mais velhos, tratando-os como um peso morto da sociedade, em especial depois de abandonarem a vida ativa. Porém, em sociedades como o Norte da Europa, os mais velhos são considerados autênticos poços de sabedoria, fazendo recordar as cidades da antiguidade, onde estas eram dirigidas por um coletivo de anciãos capazes de guiar a comunidade.

Investigadores de todo o mundo afirmam que os mais velhos discriminados vivem, em média, menos sete a oito anos.

O abandono social dos mais velhos tornou-se ainda mais evidente. No caso dos lares, nem todos dispõem de médico, enfermeira, massagista, nutricionista ou de uma técnica que dinamize as muitas horas que os utentes ali passam. As aldeias, cada vez mais desertas, estão sós e à mercê de si mesmas e, se para cada um de nós a solidão é um problema, para os mais velhos é uma verdadeira doença.

A segurança social não tem flexibilidade e revela pouca imaginação para definir novas respostas sociais. É tal a carga burocrática que impossibilita o desenvolvimento de alternativas, encontrando as mesmas soluções para os mesmos problemas. Acontece, muitas vezes, a Segurança Social rejeitar apoio a projetos que lhe são apresentados, apenas porque não se enquadram nas valências já existentes mas, pasme-se, de seguida, que técnicas de serviço social contactam essas mesmas instituições a pedirem ajuda para encontrarem soluções por não terem respostas dentro do sistema.

E é este o Estado em que aqui chegamos.

Todos são válidos!

Iniciativa de Recolha de Brinquedos

Sob a égide do constante objetivo de promover uma solidariedade intemporal e intercultural, a World Needs levou a cabo, no decorrer do passado mês de Dezembro de 2020, uma Campanha de Recolha de Brinquedos com o objetivo de prestar apoio a um conjunto de crianças e jovens institucionalizados e em situação de maior carência económica.

Cientes da realidade que cobre a vivência destas crianças e atentos às desigualdades que inegavelmente se evidenciam nas semanas que antecedem a época natalícia, cresceu em nós uma vontade de contribuir para que cada uma destas crianças tivesse oportunidade de ter um Natal mais feliz.

Posto isto, demos início à Campanha de Recolha de Brinquedos através da criação de uma base de doações online e, com o intuito de estimular a solidariedade entre os mais jovens, procedemos ainda ao estabelecimento de contactos com diversas Escolas Primárias para a colocação de uma caixa de recolha nas suas sedes. 

Indo além das expectativas iniciais, esta iniciativa contou com mais de 600 brinquedos recolhidos, permitindo-nos assim efetuar a distribuição destes por quatro das diversas instituições por nós previamente identificadas: três delas no Concelho da Murtosa e uma outra no Concelho de Esmoriz. A World Needs, em conjunto com todos os que efetuaram doações e contribuíram de diversas formas para esta causa, conseguiu assim apoiar cerca de 140 crianças com mais de 360 brinquedos. 

Embora a atual situação pandémica e o decretamento do novo Estado de Emergência tenham condicionado a finalização desta campanha – deixando pendente a distribuição dos cerca de 300 brinquedos restantes – temos já determinada a sua entrega a uma quinta instituição localizada no Concelho de Aveiro. 

Perante o sucesso desta e de outras iniciativas levadas a cabo pela World Needs, resta-nos agradecer a generosidade dos contributos que têm chegado até nós e que nos permitem continuar a acreditar que é possível trazer o sonho para o plano da realidade. Porque não duvidamos que o sonho comanda a vida e,

Sempre que um homem sonha,

  O mundo pula e avança
  Como bola colorida
  Entre as mãos de uma criança.”

Respiração Diafragmática: aprender a lidar com a ansiedade

Jéssica Marques

Marisa Lima

A ansiedade constitui um dos grandes males do século XXI, sendo responsável por um grande número de consultas na área da Psicologia. Tendo isto em conta, é importante ressaltar que, em níveis moderados, a ansiedade pode ter uma função protetora e adaptativa na vida do ser humano, não sendo inerentemente negativa. No entanto, é cada vez mais frequente na sociedade atual uma tendência para preocupação exacerbada e reiterada face a diversas situações do quotidiano, tornando-se uma preocupação cada vez maior dos profissionais de saúde da área.

Trata-se de uma experiência emocional que se caracteriza por um estado de inquietação e preocupação, acompanhada de sensações corporais. Ela é entendida como uma emoção secundária, pois desenvolve-se a partir do medo (emoção primária), difuso e inespecífico, causado por uma possível ameaça.

Em 2020, a pandemia da Covid-19 assolou o mundo e afetou o bem-estar físico, mas sobretudo o bem-estar psicológico, trazendo consigo o medo e a ansiedade em níveis bastante elevados na população e revelando-se uma problemática a combater.

Como forma de aliviar os sintomas da ansiedade é, muitas vezes, recomendada a respiração diafragmática, que tem como objetivo geral o alívio dos sintomas ligados ao componente fisiológico da ansiedade. Assim, esta técnica de respiração terapêutica visa não só interromper a associação aprendida entre a hiperexcitabilidade e a preocupação sentida (Moura et al., 2018), como também proporcionar tranquilidade e bem-estar ao indivíduo (Barlow, 2016, as cited in Lenhardtk & Calvetti, 2017).

Neste sentido, esta técnica é um processo de aprendizagem que inclui o controlo da respiração em situações stressantes, proporcionando à pessoa um momento de distração, sensação de controlo sobre o próprio organismo e auxiliando-a a alcançar uma resposta de relaxamento (Barlow, 2016, as cited in Lenhardtk & Calvetti, 2017). Com ela pretende-se a libertação da tensão, para que o corpo relaxe e os sentimentos ansiógenos reduzam, por consequência (Moura et al., 2018).

Com esta técnica, a pessoa é convidada a deitar-se de barriga para cima ou sentar-se confortavelmente, colocando uma mão na região abdominal, logo acima do umbigo, e outra na região torácica, sobre o peito, de modo a prestar atenção e a controlar o atual padrão respiratório e a identificar os movimentos de inspiração e expiração. Neste sentido, pede-se à mesma que respire lenta e pausadamente, inspirando pelo nariz enquanto projeta o abdómen para fora, ou seja, enchendo a barriga como um balão, e conte até quatro segundos. Sendo o objetivo principal que a mão sobre o peito se mexa o mínimo possível. De seguida, a pessoa deve prender a respiração por dois segundos e posteriormente, fazer o mesmo, mas de forma inversa, ou seja, ir relaxando o abdómen enquanto expira pela boca de forma suave, de modo que possa levar o dobro do tempo que usou para inspirar o ar, ou seja, seis segundos (Oliveira & Duarte, 2004, as cited in Wilhelm, 2015; Neto, 1998, as cited in Wilhelm, 2015). O movimento consiste em expandir e contrair voluntariamente a região abdominal (Dias et al., 2015). 

Esta estratégia implica treino sistemático para que haja uma execução correta no sentido de contribuir para uma melhor ventilação em situações ansiógenas. Além disso, sugere-se a realização da mesma num ambiente tranquilo, sem ruído e com pouca luminosidade e aconselha-se que o seu início seja numa posição horizontal uma vez que é mais simples controlar os movimentos diafragmáticos devido à menor pressão exercida. (Hough, 2001, as cited in Dias et al., 2015). Com a utilização recorrente desta estratégia é esperado que a pessoa adquira as capacidades necessárias para poder executá-la de uma forma individual em qualquer tipo de meio, contexto ou momento do dia, abstraindo-se de estímulos internos e externos ansiógenos.

A técnica da respiração diafragmática é considerada a base do relaxamento e de combate à ansiedade e contribui para ritmar a inspiração e expiração, intercalados pelas vias respiratórias. No entanto, esta estratégia não se encontra sozinha, pelo que existem outras técnicas de relaxamento, nomeadamente o uso de práticas meditativas e o recurso a atividades criativas (como a pintura e a música), que se podem mostrar úteis em momentos de elevada sintomatologia ansiolítica. Dito isto, como seres individuais e idiossincráticos que somos, a exploração de várias técnicas de relaxamento pode-se mostrar vantajosa face à exposição a diversos estressores, sendo o caminho para a descoberta das estratégias que mais se adequam a cada um de nós. 

Resta recordar que não tem de viver a ansiedade em solidão. Por isso, sempre que a ansiedade se tornar um entrave ao seu bem-estar, procure ajuda psicológica. 

Linhas de apoio Psicológico:

SOS Voz Amiga – 213 544 545 / 912 802 669 

SNS 24 – 808 24 24 24 (extensão 4) 

Administração Regional de Saúde do Norte – 220 411 200

Fundação São João de Deus – 924 101 462

 

Referências Bibliográficas:

Dias, J. M. M., Monteiro, M. J. P. & Rainho, M. C. (2015). Gestão de Stresse: Técnicas de Respiração e Relaxamento e Gestão do Tempo. Revista Eletrónica de Educação e Psicologia, 6, 71 -81. 

Lenhardtk, G. & Calvetti, P. Ü. (2017). Quando a ansiedade vira doença? Como tratar transtornos ansiosos sob a perspectiva cognitivo-comportamental. Aletheia, 50(1-2), 111-122.

Moura, I. M., Rocha, V. H. C., Bergamin, G. B., Samuelsson, E., Joner, C., Schneider, L. F. & Menz, P. R. (2018). A terapia cognitivo-comportamental no tratamento do transtorno de ansiedade generalizada. FAEMA, 9(1), 423-441.

Willhelm, A. R., Andretta, I. & Ungaretti, M. S. (2015). Importância das técnicas de relaxamento na terapia cognitiva para ansiedade. Contextos Clínicos, 8(1), 79-86.

Outra vez!? A realidade de voltarmos a confinar em Portugal

2021 está a ser uma espécie de 2020 mas ao quadrado. Os números que nos fazem chegar por casos de COVID-19 são alarmantes e, por todo o país, os hospitais têm tido sérias dificuldades em dar resposta aos milhares de casos que dão entrada diariamente nos serviços de urgência.

Começa-nos a faltar a força e a perseverança de levarmos em frente esta fatídica luta que assombra todo o mundo. As recentes decisões tomadas pelas nossas autoridades pouco têm valido para esmagar a curva epidemiológica em Portugal, não permitindo contrariar o surgimento de novos casos positivos.

Não vale a pena desacreditar na ciência, apontarmos a culpa a determinados sujeitos decisores ou fazermos juízos de valor de que, se fossemos nós a decidir, os resultados seriam bastante melhores.

Não vale a pena continuarmos a lançar a retórica que só acontece aos outros e que nós, saudáveis, porque estamos sempre bem e de saúde, nunca nos poderá afetar tal coisa. Não vale a pena dizer que só se trata de uma simples gripe, que é tudo uma fraude que estão a promover em todo o mundo ou que se trata de uma tentativa massiva para controlarem as pessoas através de nanopartículas tecnológicas que são colocadas no corpo por via da vacinação. Não vale a pena lançar o debate que esta é uma desculpa para esgotar todos os serviços e setores da saúde, priorizando esta pandemia, descredibilizando tudo o resto que também merece atenção e dedicação. Neste momento, não vale a pena querermos ser mais inteligentes que o resto da humanidade, simplesmente porque estamos cansados de ouvir diariamente o mesmo assunto e, de há quase um ano para cá, sermos privados de fazer as coisas mais simples e básicas que tanto gostamos.

Importa não esquecer que praticamente todos os setores foram afetados.
Principalmente o setor da Economia, que está de mãos atadas face a tudo isto. Muitas empresas não estão a conseguir sobreviver e, consequentemente, milhares de pessoas em todo o país perdem os empregos, passando a acumular dificuldades para assumir os seus compromissos. Este é o resultado de uma crise económica e
social muito dura sem precedentes que está a criar danos difíceis de reparar.

Contrariamente a março de 2020, existe uma luz ao fundo do túnel – a tão esperada vacina -, que ambicionamos que possa chegar a todos tão breve quanto possível. Mas até que isso aconteça, temos de garantir que as medidas de proteção são cumpridas, por muito que nos custe. E devemos fazê-lo, não só do ponto de vista pessoal, mas pelo respeito para com o outro.

Tomemos consciência que é da nossa total responsabilidade assumirmos um papel de alerta, vigilância e de proteção para o bem de todos, como um verdadeiro sentido de missão. Trata-se de um dever geral e não só de alguns, pois este mal não escolhe credos, cores ou ideologias.

Até quando?

Da Rita à Maria, 
Foram 30 da noite para o dia.
Este número anormal,
O que estamos a fazer de mal, Portugal? 
O ano vai a mais de meio, 
Mas o cenário é muito feio. 
Somos todas por uma, 
Para que não aconteça com mais nenhuma. 
As mulheres estão a morrer à porrada, 
Será esta era tão pouco civilizada? 
Nunca nos vamos calar, 
Até que este mal seja preciso travar. 
No mundo, não somos 137 por dia, somos muitas mais, 
Por cada mulher derrubada, 
nenhuma vive indiferente nunca mais. 
Por cada cara pisada, uma alma abraçada. 
Uma lágrima caída, por cada vida perdida. 
Não podemos só lamentar, é preciso atuar. 
Façam-se ouvir, temos que nos unir! 
De quem partiu resta a saudade, 
Mas precisamos da verdade:

ATÉ QUANDO? 

Esta é a verdadeira história da minha vida e de todas nós!

Hoje estamos aqui para vos falar sobre a violência contra as mulheres, aquela a que estamos todas destinadas desde o berço. Seja ela física, psicológica, financeira e até, atentem, cultural. Esta é a verdadeira história da minha vida e de todas nós!

Anualmente morrem às mãos dos seus maridos, pais ou até filhos, dezenas de mulheres em Portugal e quantos milhares não serão pelo mundo? Há a necessidade de fazer este ciclo parar, temos que educar os nossos filhos, netos e todas as gerações futuras para que as mulheres sejam respeitadas como iguais, sim iguais, não como um ser superior, nem inferior. 

Temos as nossas diferenças biológicas em relação ao sexo oposto, mas isso fará de nós pessoas com menos direitos? 

Desde o dia 11 de novembro que os salários pagos a uma mulher não representam absolutamente nada, porque o homem continuam a receber substancialmente mais. Serão as mulheres menos capazes de exercer as mesmas funções? Então porque deverá a desigualdade salarial ser tão grande e porque é que ainda não conseguimos fazer frente a este problema e resolvê-lo? Bem, a resposta é simples, porque não interessa que as mulheres consigam alcançar os mesmos órgãos de poder que os homens. 

Apesar de não termos direito ao nosso salário igualitário, temos direito a ser agredidas? 

Diariamente, na vida de uma qualquer mulher ela é vítima, seja por um piropo, um toque, um insulto, o controlo que veste, onde gasta o seu dinheiro ou até quando chega a casa, de um dia de trabalho e tem que fazer as tarefas domésticas porque é esse o papel da mulher, estes são meros exemplos dos mais variados tipos de violência que existem. Não é difícil perceber os restantes quando até ao dia 15 de novembro se contabilizaram 49 tentativas de femicídio, das quais 30 resultaram na morte das mulheres.

Quero que esta mensagem seja de esperança e por isso vos digo:

Tenho esperança que um dia, todas nós deixemos de receber o nosso salário só até novembro e que passe a ser até ao último dia do ano. 

De um dia, sair à rua sozinha sem ter de pensar no que estou a vestir, sem ter medo de ser violada.

Poder ir a uma discoteca e pagar o mesmo que um homem e não pagar menos por funcionar como isco para os atrair.

Quero um dia e no seguinte também, acordar e ler um jornal sem ter que ver que mais uma mulher foi morta. 

A mudança tem que começar já, dentro de cada um/a de nós. Para isso, não podemos desistir e não nos podemos esquecer que temos de lutar pelos nossos direitos, pelos das que morreram e por todas aquelas que ainda estão por nascer.  

Igualdade de género: uma análise da realidade portuguesa

Atualmente, a igualdade de género é um tópico importante, não porque está na moda, mas porque é imperativo acabar com a discriminação de género (1). Embora em 1918 algumas mulheres ganharam o direito a voto, 100 anos depois, o jornal The Guardian publicou depoimentos sobre previsões para os próximos 100 anos e nenhuma delas era otimista (2). O Gender Gap Report de 2020 confirma isso e acrescenta que nenhum de nós verá igualdade de género nas nossas vidas, e nem provavelmente os nossos filhos (3). Portanto, é imperativo que a igualdade de género seja entendida como importante para homens e mulheres (4).

Felizmente, a igualdade entre mulheres e homens é um valor fundamental da União Europeia (UE), consagrado ao longo da sua história e dos Tratados desde 1957 (5,6). Para ajudar a eliminar as disparidades de género e reduzir as desigualdades, a UE desenvolveu uma nova estratégia para os próximos cinco anos (7).  No entanto, o movimento de promoção da igualdade de género conheceu avanços e retrocessos ao longo do século passado (8).

Em Portugal, durante anos (1926-1974) as mulheres não foram vistas como alguém com um papel ativo na sociedade (9). Após o fim da ditadura, a inserção da mulher no mercado de trabalho e a promoção de políticas voltadas para a igualdade de género foram de grande importância para a promoção do modelo de casal com dupla renda (10). No entanto, ainda há muito a ser feito.

O mercado de trabalho português é caracterizado por uma elevada participação das mulheres no emprego a tempo inteiro, mas os homens continuam a ocupar posições dominantes enquanto as mulheres são muitas vezes relegadas a posições mais desqualificadas (10). De acordo com o Comité Europeu dos Direitos Sociais, Portugal é um dos 14 países que violam o direito à igualdade salarial e de oportunidades de trabalho entre os sexos (11). O aumento da presença da mulher no mercado de trabalho não é acompanhado pelo aumento da presença do homem na vida doméstica (10). Quando um casal está desempregado, as mulheres tendem a ficar presas ao trabalho doméstico. Porém, com os homens, a contribuição só aumenta durante o fim de semana (12).

Considerando o contexto académico, embora as mulheres representem a maioria dos alunos das instituições de ensino superior, a maioria das universitárias sofreu algum tipo de assédio (13). Além disso, ao entrar em cargos de liderança, a percentagem de líderes masculinos é muito maior em comparação com as mulheres, aproximadamente 66% contra 34% em 2019 (14). Desigualdades também aparecem em outros setores como a media, onde figuras de autoridade, como especialistas, apresentados são na maioria das vezes homens (15). Outro fenómeno é a violência na geração mais velha. A partir de um estudo realizado, pode-se afirmar que de 10 idosas na casa dos 60 anos, 4 já sofreram violência ou abusos (16).

Isto não deveria acontecer no mundo atual e moderno em que vivemos, e o termo feminista carece de uma compreensão global e ampla aceitação para garantir que a igualdade de género é alcançada. Porém, enquanto movimento, o feminismo, a luta pela igualdade entre homens e mulheres, nunca teve uma base sólida em Portugal (8).

Para melhor compreender a realidade portuguesa em matéria de igualdade de género, foram realizadas quatro entrevistas a pessoas envolvidas em projetos de igualdade de género. Uma das perguntas, em comum, a todas as entrevistas foi “Como você vê as novas gerações que falam mais abertamente sobre o assunto e buscam mudar o curso da história, por exemplo, por meio das redes sociais? Isso será essencial, ou será preciso mais “luta” no mundo real?”. As respostas sobre o assunto são semelhantes ao longo das entrevistas. As redes sociais não vão mudar o mundo, mas podem ajudar quando usadas de maneira adequada e em coordenação com o que acontece no mundo offline. Porém, o seu uso deve ser cuidadoso e garantir a transmissão de informações baseadas em fatos (17). Portanto, há a necessidade de considerar qual plataforma utilizar, como utilizá-la, quando postar e quem é o público-alvo. Além disso, deve-se garantir que comentários de ódio não sejam promovidos, mas podem ajudar a iniciar um debate entre diferentes mentalidades.

Outra questão comum a todos os entrevistados foi “passaram 46 anos desde a revolução portuguesa de 25 de abril de 1974. Como vê a situação da igualdade de género em Portugal hoje em comparação com aquela época?”. Naquela época, as mulheres eram totalmente dependentes dos homens conforme afirmado por uma entrevistada e a desigualdade fazia parte da legislação nacional, conforme afirmado por duas entrevistadas. Embora todos os entrevistados concordem que houve avanços desde então, a desigualdade ainda existe na mentalidade das pessoas e em diferentes setores da sociedade. Conforme mencionado pela entrevistada 4:

“Estamos longe do que deveríamos ser. Obviamente, conseguimos conquistar direitos suficientes e conseguimos dar os primeiros passos, mas há muito para fazer principalmente na questão da educação e mudança de mentalidades.”

Outra questão comum na sociedade portuguesa diz respeito à passividade demonstrada pela sua população quando se trata de assuntos mais delicados e políticos. Levando isso em consideração, foi questionado “Você considera que eles (os portugueses) ainda são passivos quando se trata de tomar ações para reduzir ou eliminar as desigualdades de género?”. A entrevistada 4 acredita que existe um “analfabetismo” que ainda prevalece como herança da ditadura e que existe uma falta de confiança generalizada nas instituições políticas. Os entrevistados 1 e 3 concordaram que se dá prioridade às questões económicas. A entrevistada 3 também trouxe à luz que existe uma crença permanente de que a situação “poderia sempre ser pior”, ao invés de considerar que há espaço para melhorias. Ou seja, com a pandemia de COVID-19 e o risco de uma nova crise, as pessoas tendem a concentra-se noutros aspetos da sociedade e a igualdade de género perde importância (18).

A entrevistada 1 acrescentou que existem muitos provérbios tradicionais que refletem como a desigualdade de género está enraizada na sociedade e como é difícil dissipar essas ideias. O Entrevistado 2 referiu que a sociedade portuguesa não é homogénea e que algumas ideias e comportamentos ligados à discriminação de género ainda prevalecem nas gerações mais jovens. Como referiu a entrevistada 1, devemos evitar olhar para a sociedade portuguesa como um todo.

Em relação aos dados recolhidos sobre a desigualdade de género na União Europeia, foi perguntado “O relatório sobre a igualdade de género de 2020 conclui que vai demorar cerca de 99,5 anos para acabar com esta desigualdade de género. Acha que em Portugal pode demorar ainda mais?”. Os entrevistados 1 e 2 acreditam que estamos no mesmo ritmo que os países ocidentais. Este último acredita que há um esforço governamental e há avanços positivos. A entrevistada 3 corrobora o encontrado na pesquisa que diz que enquanto as mulheres conquistaram um lugar na força de trabalho, o mesmo não se pode dizer sobre os homens e o trabalho doméstico (10). Por outro lado, a entrevistada 4 discordou. Ela acredita que Portugal vai demorar muito mais para alcançar a igualdade de género, reforçando que é importante educar as crianças, principalmente os meninos, e que é importante que as mulheres se unam:

“Felizmente, chegamos a um ponto em que fornecemos educação para raparigas que lhes deu muitas ferramentas para chegar a vários lugares que antes eram inacessíveis. Mas a verdade é que ainda estamos a esquecer um fator ainda mais importante que vai transformar esses 100 ou 400 anos que faltam para Portugal mudar de mentalidade, desses 400 para 150 anos, que são os rapazes.“

Ainda em relação às previsões para o futuro, a seguinte questão foi “Uma das metas da ONU para 2030 é alcançar a igualdade de género no mundo. No entanto, em Portugal, ainda existem muitas desigualdades em diferentes áreas, por exemplo, o mundo académico e até na própria vida doméstica. É possível prever como estaremos em 2030?”. O sentimento geral dos entrevistados é que é muito difícil prever o que está reservado para os próximos anos. Havia também uma preocupação comum com o surgimento da extrema direita no país. A entrevistada 3 acrescentou que há muitos homens e mulheres jovens que adotam visões sexistas. Porém, ela também acredita que existe o movimento contrário:

“O que estou ciente é que temos um problema de desigualdade de género e esse problema está criando dois picos, um ponto feminista e um pico conservador. E o que vai acontecer é que se um deles crescer, o outro também crescerá, para melhor ou para pior. O que devemos fazer é esperar. E se continuarmos a aguentar e continuarmos a trabalhar, há esperança.”

Foi também questionado “Dados de 2019 do Instituto Europeu para a Igualdade de Género mostram que Portugal com 59,9% está abaixo da média em termos de concretização desta igualdade. Isso, vinculado à notícia recente de que nosso país é um dos 14 que violam o direito à igualdade de remuneração, segundo a Comissão Europeia de Direitos Sociais, não favorece nossa posição. Qual a sua opinião sobre o assunto?” Os entrevistados 2 e 3 afirmaram que existe disparidade de género e embora Portugal não seja o único caso na União Europeia, o entrevistado 2 referiu também que existe legislação relativa à igualdade de remuneração. O entrevistado 4 acredita que as mulheres ainda aceitam a diferença de género e a aceitam como normal.

Uma questão importante é também a necessidade de rever a paternidade e as licenças de maternidade. Embora em Portugal seja dominado como licença parental (19) ainda é comum a mãe ser a única que fica em casa. Isso ocorre porque ao dividir a licença parental para a mãe e o pai, muitos pais ainda não têm direito à licença parental (20).

A entrevistada 1 é escritora e professora de moda em Portugal. No seu livro, no qual aborda a igualdade de género ao longo das gerações, ela entrevistou um grupo de mulheres de diferentes idades e origens. O objetivo era estudar a sua vida e pontos de vista sobre a sociedade e uma determinada peça de roupa do passado, o espartilho por ser uma peça de roupa característica do género feminino. Uma das coisas mencionada por ela foi que de 23 mulheres, apenas duas afirmam estar satisfeitas com o corpo, a mais velha e a mais nova. Ela também disse que uma explicação para isso pode ser que essas duas mulheres estão numa fase semelhante da vida onde não se importam com os estereótipos da sociedade. Porém, sob outro ponto de vista, um dos comentários que ela também ouviu foi que às vezes o olhar que as mulheres costumam ter na rua pode ser muito perturbador. A entrevistada 3 referiu-se a algo semelhante. O corpo feminino é um assunto público. Ela afirmou:

Eu sinto que o corpo feminino continua a ser público.”

Isso adiciona uma pressão enorme para as mulheres, pois há a sensação de que há sempre alguém a analisar a forma como se vestem ou falam diante da sociedade.

O entrevistado 2 trabalha numa organização governamental. Uma das perguntas era sobre o motivo da escolha de estudos e empregos pelas mulheres. Ele afirmou que embora as mulheres tenham melhores notas, em comparação com os homens, não há muitas raparigas a frequentar algumas áreas da engenharia como a eletrónica ou a mecânica. A falta de mulheres na política e no ativismo também acontece, visto que, quando as mulheres se casam, precisam conciliar o trabalho com a casa e os filhos. O mesmo não acontece com os homens (15). A informação confirmou que as mulheres ainda trabalham mais horas em casa do que os homens.

A entrevistada 4 também mencionou que, normalmente, quando uma feminista dá um passo à frente, o patriarcado a empurra 2 passos para trás. É importante não esquecer que os progressos realizados podem sempre desaparecer. Esse foi outro assunto discutido, o peso da palavra feminismo e o que ela representa.

A entrevistada 3 também afirma que há muitas pessoas que não são feministas porque não sabem o significado correto da palavra. Portanto, pode ser difícil reduzir o julgamento de que o feminismo está associado à ideia de que as mulheres são superiores aos homens. No entanto, como afirma o Oxford Dictionary, feminismo é “a crença e o objetivo de que as mulheres devem ter os mesmos direitos e oportunidades que os homens; a luta para alcançar este objetivo”(21). Muitas definições podem ser identificadas dependendo de quem usa o termo e com que propósito (22). Além disso, muitos tipos de feminismo podem ser identificados em todo o mundo (23,24). Tal deve ser considerado na discussão do tema, pois a ideia de que o feminismo é íntegro e não pode ser dividido pode prejudicar o seu objetivo.

Com essa ideia de desmistificação da palavra “feminismo” emerge a importância da educação. Verificou-se que há a necessidade de educar as gerações mais jovens antes da formulação de estereótipos nas suas cabeças, conforme citado pela entrevistada 4. O papel da escola é muito importante, principalmente no ensino primário. Considerando que as crianças são o futuro e dado o que a sociedade e a escola lhes ensinam desde o início, a desigualdade de género pode tornar-se mais forte e fácil de entender.

Além disso, há a necessidade de mais educação dos rapazes para a igualdade de género. Um caminho muito importante foi percorrido no que diz respeito ao empoderamento da mulher em diferentes setores da sociedade, sendo que ainda há muito a ser feito (25). No entanto, a educação deve começar a concentrar-se em como educar os rapazes para que também sejam ativistas pela igualdade de género. Tal pode ajudar a reduzir a hipótese de se tornarem o próximo agressor, uma vez que a desigualdade de género e a violência contra as mulheres podem ser vistas como dois lados da mesma moeda (26).

Para finalizar as entrevistas, questionou-se: “o que você acha que é necessário fazer para que as pessoas se envolvam mais na luta pela igualdade de género, como elementos de uma sociedade moderna?” Os entrevistados 1 e 4 falaram que há muito a ser feito, mas também às vezes não é preciso muito para envolver as pessoas. O consenso foi a importância da educação e que é necessário mais envolvimento dos jovens. O entrevistado 2 mencionou:

“Vocês, jovens, têm um papel muito importante de se envolver mais, de lutar, de passar a mensagem. Hoje existe muita informação e acessível. Muitas pessoas são contra (igualdade de género) e falam sem informação. Quando confrontados com dados atuais, a sua perceção muda. Com os dados, pode ser fácil mudar a mentalidade. Muitas pessoas estão convencidas de que as mulheres mandam mais do que os homens, mas quando se mostra as estatísticas isso não é a realidade e as pessoas reagem “Ah, eu não fazia ideia”. Às vezes é fácil desconstruir as crenças da maioria das pessoas com alguns dados.”

Este estudo constatou que o uso das redes sociais para informar sobre diferentes situações do mundo, nomeadamente a igualdade de género irá aumentar. Em segundo lugar, há a necessidade de reforçar a igualdade de género nos programas de educação desde cedo, voltados para raparigas e rapazes. Em terceiro lugar, apesar de Portugal ter introduzido a mudança da licença de maternidade para a licença parental, a maioria dos pais ainda não é obrigada a usar os dias. Para concluir, é necessário mais trabalho para alcançar a igualdade de género em todas as áreas de nossa sociedade. Além disso, a análise da palavra “feminismo” pode auxiliar ou prejudicar a luta pela igualdade de género dependendo de quem defende ser feminista e com que finalidade.

Para nós, o feminismo visa alcançar a igualdade de género e isso significa colocar mulheres e homens no mesmo nível, com os mesmos direitos e responsabilidades.

 

Referências

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Doença de Crohn

1 ano e 2 dias de diagnóstico. Provavelmente, muito mais tempo de convivência diária com a doença. Não é uma condição, é uma doença!

Nunca me senti a pessoa mais saudável do mundo, mas no verão de 2019 senti-me verdadeiramente doente. Doente ao ponto de dizer a quem estava ao meu lado: “eu acho que vou morrer”. Bem sei que todos vamos, mas sentia nesse momento uma fraqueza intensa, a energia a ir-se embora, como se existisse apenas uma linha ténue entre o designado outro lado e este lado da vida. Não pedi opinião a ninguém sobre a partilha deste tópico tão meu, porque a luta também é tão minha. Bem sei que afeta toda a gente à minha volta, mas o que cada um sente é o que cada um sente.Dor é um conceito presente em praticamente todos os meus dias. Bem sei que a doença foi descoberta há pouco tempo e é difícil “acertar com a medicação”.

Há muito por descobrir em relação a este problema e os sintomas diferem de pessoa para pessoa. O que se sabe é que o meu corpo me tenta defender de tudo e mais alguma coisa, mas ele está tão confuso. Provoca uma resposta exagerada em relação ao que é realmente mau, mas também ao que pode ser bom. A assimilação é difícil para ele, então expulsa tudo.Se ele me defende a mais, porque hei de eu me defender a menos? O que tenho aprendido com isto? É duro. As consultas multiplicam-se, exames e análises constantes, onde podem surgir internamentos pelo meio. Os baixos vão e voltam, mas os baixos são muito baixos.

Hoje é um desses dias. Estou a ter uma crise de aftas muito dolorosa à espera que a cortisona faça algum efeito. O que aprendi com isto? A não ter vergonha. A combater o estigma, como faço em relação a muitos outros temas. Não inventem desculpas para não estar com os vossos amigos, ou não irem a isto ou aquilo. Digam a verdadeira razão. Só sabendo vocês próprios a vossa verdade e quem vos rodeia, poderão ter um maior e melhor suporte social, assim como um maior e melhor tempo para estarem sozinhos se assim necessitarem .A mensagem é: Relativizar. E deixarem entrar na sua maioria  relações saudáveis, ambientes saudáveis, pensamentos saudáveis.

Saber respeitar o nosso tempo, ouvir o nosso corpo. E aceitar:naipe_copas:

Mas eu queria acrescentar:
Há uns dias escrevi este texto com alguma comoção, a emoção veio depois, ao ler-vos. De repente, surgiu o lado positivo daquilo que é mau. O tema que tantas vezes me rouba o sorriso, devolveu-me o brilho no olhar. De repente, tremi. Gosto muito de que aquilo que eu faça, traga contributo para o outro e no fundo tinha essa esperança. Não contava que o relato daquilo que é a normalidade do meu dia a dia se tornasse numa onda de energia contagiante, mas a verdade é que se multiplicaram as mensagens de pessoas que não ficaram indiferentes e que lutam, lutaram ou lidam com quem lute contra problemas como a doença de crohn, psoríase e cancro. Não vos quero largar mais. Senti um boost incrível e a minha gratidão tornou-se desmedida.Para que as lágrimas de dor, se tornem em lágrimas de amor e de entusiasmo por esta união, deixo o meu e mail para todas as pessoas que também queiram deixar alguma partilha.
beatriz@wneeds.org
A quem já o fez, tornou-se uma inspiração para mim. Prometo ler e responder-vos sempre.

Bullying

Ele está no meio de nós. Está tão no meio de nós ao ponto de ser banalizado? Não devia!

Devia ser a representação urgente da necessidade de intervenção e prevenção. Está no meio de nós de tal forma que podemos ter amigos ou familiares que podem ser vítimas desta problemática. E são muitas as vítimas! Mesmo que fosse só 1, o sofrimento é muito e significativo e deve ser reparado.

Na escola, no trabalho, entre a família, nos locais que se deveriam querer como lugares de partilha e segurança, nem sempre o são. Não se vive uma guerra fria, vive-se uma guerra aberta e declarada. Digo vive-se, porque vivemos todos. Ninguém pode ser indiferente ao facto de crianças morrerem devido a esta problemática.

Acham que é uma moda?

Segundo a Unicef, 50% dos adolescentes no mundo sofrem violência na escola e nas proximidades. Os adolescentes podem ser viciados em muita coisa que se associa à moda do seu tempo: jogos de computador, consolas, cantores, etc.. Estes vícios, a um nível saudável ou não, dependem da supervisão dos adultos. Os números do bullying são o espelho da sociedade tal e qual como está tipificada, na competição entre raparigas, na necessidade de demonstração de virilidade entre os rapazes.

Os adultos são assim e são o modelo das crianças. A forma de resolução de conflitos, os estereótipos entranhados são visualizados e adquiridos desde cedo. É possível serem moldados? Claro que sim! É para isso que a comunidade serve.

“Agora tudo é bullying.” Não é assim. Não normalizem o que não é de normalizar. Não coloquem a pessoa que sofre numa redoma. Não diabolizem a pessoa que o pratica, ainda para mais quando é uma criança.

Há um sentido atrás de tudo o que não faz sentido. A razão está sempre lá, ainda que não esteja explícita. Podia-vos apresentar números, mas orgulho-me de ter feito a diferença há muitos anos na vida de uma amiga próxima.

Talvez mais do que muitos adultos. Eu era uma criança a tentar ajudar outra criança. Empatia e escuta ativa não eram conceitos que faziam parte do meu vocabulário. Mas estavam intrínsecos no meu coração.

Não são precisos muitos estudos para os ter mas, hoje, sei que as bases teóricas teriam ajudado mais.

Profissionais conscientes, por mais pessoas felizes presentes! Sem julgamentos.